domingo, 29 de abril de 2012

Pipoca.

O pipoqueiro está em sua esquina de costume, apoiado em seu carrinho, sorrindo ao observar as brincadeiras das crianças na praça. Um homem cabisbaixo se aproxima, levantando seu olhar rapidamente para direcioná-lo ao pipoqueiro, para pedir um saco de pipoca doce. Naquele relance, o pipoqueiro compreende. Enquanto enche um saquinho de papel com pipoca doce, sente um calor passar de sua mão para a colher de pipoca. Ele não toca na própria mercadoria (é um profissional), mas, se tocasse, provavelmente sentiria nos flocos brancos um calor curioso, diferente daquele providenciado pelo fogo.. O estranho pega o saco, paga e se afasta, petiscando a guloseima sem muita vontade.
Antes que ande até a esquina, seu celular toca. Ele olha para o visor atônito, sem acreditar no nome que lê. Então atende, gaguejante:
"A-alô? Oi, amor! Quê! Se eu te desculpo? Falou sem pensar? Confia em mim agora? Claro que eu te aceito de volta, meu amor! Esse é o dia mais feliz da minha vida! Sim, estou aqui perto, estou indo praí." E sai correndo, o saquinho esquecido na mão espalhando seu conteúdo pelo chão, pra alegria dos pombos da cidade.